Se há algo que aprendemos nos últimos tempos é que as regras fiscais nunca param de mudar no Brasil. E poucas transformações vieram com tantos desdobramentos quanto a chegada da CBS – Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços – dentro da reforma tributária. Para quem atua em contabilidade, sentir aquele frio na barriga é quase um rito de passagem desde que os primeiros textos começaram a circular. Não faltam dúvidas, opiniões e, claro, desafios práticos para os próximos anos.
O que é a CBS e por que a contabilidade precisa se preocupar?
CBS é a sigla para Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços, um tributo criado para substituir o PIS e a Cofins. A ideia central da CBS é simplificar a tributação do consumo no Brasil, agrupando o que antes era repartido e muitas vezes redundante em dois tributos (PIS e Cofins) em um só.
Para a contabilidade, essa mudança representa uma virada de chave na forma de calcular, apurar e declarar tributos relacionados à receita de bens e serviços. E não apenas uma alteração de nomes ou códigos – envolve rotinas fiscais, adequação de sistemas, política de preços, e principalmente, o modo de orientar clientes e manter a regularidade tributária dos escritórios.
<Menos tributos, mais complexidade na transição>
Um ponto-chave é: a CBS vem acompanhada de novas obrigações acessórias e uma mudança relevante no conceito de crédito tributário. Sim, a promessa é de “menos tributos”, mas ninguém diz que será fácil chegar lá.
 Reforma tributária: como a CBS se encaixa no novo cenário para a contabilidade
Reforma tributária: como a CBS se encaixa no novo cenário para a contabilidade
A CBS é apenas uma das estrelas do grande palco da reforma tributária. Junto dela, temos a introdução do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e do IS (Imposto Seletivo), compondo a proposta de simplificação e padronização da arrecadação. A ideia é eliminar os conflitos de competência, diminuir disputas judiciais e criar um ambiente mais transparente para a contabilidade.
Está em debate a aplicação da CBS sobre operações específicas, o impacto da nova modalidade para optantes pelo Simples Nacional e ainda o tema polêmico da imunidade para entidades religiosas. Tudo se entrelaça, exigindo uma atuação consultiva e de atualização constante das equipes.
- Impacto nos regimes de tributação (lucro presumido, real, Simples Nacional)
- Mudança na apuração do crédito
- Atualização dos sistemas ERP e SPED
- Adaptação ao novo leiaute das notas fiscais
- Convivência com dois sistemas tributários na transição
Estudos mostram que a nova carga tributária da CBS, considerando as previsões da legislação complementar, poderá alcançar uma alíquota efetiva próxima de 19,6%, sobretudo para escritórios e empresas de serviços (fonte), exigindo revisão urgente das políticas de preço em 2026.
O debate político, atualizações legais e a preocupação dos contadores
Enquanto o Congresso discute ajustes, a Câmara dos Deputados já aprovou uma importante atualização: os tributos passam a ser destacados de forma transparente na nota fiscal, o que mexe diretamente com a rotina da contabilidade.
Entre contadores, auditores e advogados tributaristas, muito se discute sobre os riscos do chamado split payment, que pode criar travas na circulação de créditos tributários se não houver clareza sobre a operacionalização. Essa medida, que visa dar mais segurança à arrecadação, ainda carrega incertezas, especialmente para escritórios menores ou para contadores que trabalham com clientes de diversos portes.
Além disso, a Receita Federal já começou a orientar o mercado sobre o uso dos novos tributos CBS, IBS e IS. Estão sendo lançados materiais, simuladores, layouts e campanhas para preparar a transição em etapas. Só para integrar o sistema financeiro ao novo modelo tributário, a previsão é de investimentos bilionários em 2026 – uma conta que vai exigir adaptação e musculatura das áreas contábeis.
 SPED, API e novas obrigações: mudanças tecnológicas para a contabilidade
SPED, API e novas obrigações: mudanças tecnológicas para a contabilidade
A reformulação do sistema SPED é uma das marcas da nova era na contabilidade para 2026. O governo liberou uma nova versão do SPED que já contempla campos para CBS, IBS e IS. Isso demanda não só atualização dos sistemas, mas também treinamento das equipes.
Recentemente, foi anunciada ainda a API gratuita para consulta ao Conformidade Fácil, um recurso que permite cruzar dados e antecipar exigências fiscais. Embora de fácil acesso, é mais uma engrenagem a ser integrada ao “motor” contábil, exigindo suporte de tecnologia e novas rotinas.
O uso do Simulador da Reforma Tributária pode ser um alívio diante de tantas dúvidas. Ferramentas desse tipo ajudam a projetar cenários, estimar alíquotas e verificar possíveis efeitos sobre margens, ajudando contadores a orientar clientes. Basta lembrar que o simulador é parametrizado com base nas regras mais recentes, como as diretrizes da Lei Complementar 214/25 e informações da Receita.
Obrigatoriedade de preenchimento e os prazos da reforma para contadores
Já está em vigor a orientação para o preenchimento obrigatório dos novos tributos (IBS e CBS) a partir de novembro, segundo avisos oficiais da Receita Federal. Ou seja, negócios e escritórios de contabilidade que optarem por começar antes já podem participar do piloto da reforma tributária, inclusive com o suporte local de entidades fiscais.
Neste piloto, 129 empresas já estão integradas testando processos, layouts e transmissão das obrigações propostas para 2026. Trata-se de uma experiência essencial para antecipar gargalos e ajustar sistemas e procedimentos; um detalhe que pode fazer toda a diferença no futuro para a contabilidade.
Outra novidade é a concessão de prazo – contemplado ao longo do processo de transição da reforma tributária – para regularização de infrações anteriores, sem aplicação automática de multa. Este ajuste pode ser uma ótima oportunidade para reorganizar passivos fiscais de clientes, melhorar a reputação contábil e reduzir riscos jurídicos.
<Tempo extra para colocar a casa em ordem não aparece todo dia>
Impactos nos regimes tributários, Simples Nacional e entidades religiosas
A CBS impacta todos os regimes Tributários, mas com nuances. Para empresas do Lucro Real e Lucro Presumido, o cálculo e os créditos mudam talvez de forma mais radical. Já no Simples Nacional, as discussões seguem sobre como integrar as vantagens do regime à nova estrutura sem criar desequilíbrios – principalmente considerando a promessa vigente de redução da tributação para pequenas empresas, debate que segue inclusive nos campos político e técnico.
Outro ponto sensível é a imunidade de entidades religiosas. No texto atual da reforma, elas permanecem protegidas, mas profissionais de contabilidade devem acompanhar cada atualização, pois detalhes operacionais ainda podem mudar até a implementação definitiva.
Se quiser se aprofundar nos impactos da reforma tributária sobre escritórios contábeis, destacamos a matéria sobre como a reforma tributária impacta o seu escritório contábil. Aconselhamos também conferir as discussões aprofundadas em outra análise da transformação trazida pelo novo cenário tributário.
Capacitação, consultoria e futuro: contabilidade 360° para 2026
Se há algo que mudou permanentemente no universo contábil, foi a consciência da importância de se manter atualizado e consultivo. Como as mudanças da CBS, IBS e IS trarão impactos práticos em cada linha do balanço, cada lançamento e cada estratégia, os contadores precisarão atuar como consultores e educadores junto aos clientes.
De acordo com especialistas em reforma tributária, contadores terão de investir não só em atualização técnica, mas também em cultura de aprendizado e desenvolvimento de equipe. Muitos clientes precisarão de orientação personalizada sobre o que muda de verdade no regime tributário, e esse papel será exclusivo da contabilidade.
Aliás, para quem gosta de olhar tendências, já existem cases inspiradores no Brasil, como nos projetos que detalham quando a reforma entra em vigor e o que contadores devem fazer (saiba mais aqui).
Novo cenário para escritórios contábeis: convivendo com dois sistemas
Entre 2026 e 2033, a expectativa é conviver com dois sistemas tributários ao mesmo tempo: PIS e Cofins ainda convivendo com CBS, IBS e IS no cenário prático, principalmente com a regra de transição desenhada pelo governo.
Isso significa, para a contabilidade, acúmulo de obrigações, aumento de demandas operacionais e maior risco de erros. Pequenos deslizes podem custar caro (saiba mais sobre a carga operacional neste período crítico). A adaptação precisa ser prioritária.
Outro detalhe relevante é a necessidade de revisão dos processos internos, especialmente no que tange à classificação fiscal adequada das operações. A correta classificação fiscal será peça-chave para o sucesso da implementação da CBS na contabilidade.
 Conclusão: CBS e contabilidade em 2026, o próximo passo
Conclusão: CBS e contabilidade em 2026, o próximo passo
Podemos resumir a chegada da CBS como um divisor de águas para a contabilidade. Sim, o objetivo maior é simplificar, trazer clareza e até aproximar o Brasil de modelos de tributação internacionais.
Mas o caminho envolve complexidade: sistemas devem ser atualizados; profissionais, qualificados; clientes, orientados. A classificação fiscal, o domínio do SPED, a compreensão dos regimes específicos – tudo fará diferença. Investir em atualização agora é o que separa as empresas que vão prosperar na transição das que ficarão para trás.
Temos destacado que é preciso olhar a reforma tributária não apenas como uma alteração na legislação, mas como uma chance de transformar a rotina, elevar o papel consultivo da contabilidade e construir relações mais sólidas com os clientes.
E, para quem quer ir além, recomendamos também analisar a transformação de impostos em oportunidades com o DCP 2025 (discutido nesse artigo) e entender como as prefeituras brasileiras impactam o universo fiscal (neste outro conteúdo).
Perguntas frequentes sobre a CBS na contabilidade
O que é a CBS na contabilidade?
A CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços) é um tributo criado para substituir o PIS e a Cofins, unificando a cobrança federal sobre receitas de bens e serviços. Sua implementação está prevista para 2026 e impactará diretamente a escrituração fiscal e contábil das empresas, exigindo atualizações em sistemas, processos e apuração de créditos.
Como a CBS impacta os contadores?
A CBS muda a base de cálculo, as regras de créditos e as obrigações principais e acessórias. Para escritórios de contabilidade, isso significa a necessidade de revisão das rotinas internas, capacitação de equipes e consultoria ativa com clientes sobre a melhor forma de adaptação. O período de transição exigirá atenção redobrada para a convivência de sistemas antigos e novos.
Quais mudanças ocorrerão em 2026?
A principal mudança é a entrada em vigor da CBS e do IBS para substituir PIS, Cofins e outros tributos sobre consumo. Também haverá alteração nos leiautes do SPED, obrigatoriedade de mencionar os tributos nas notas fiscais, e novas obrigações acessórias. A classificação fiscal das operações e o uso de ferramentas tecnológicas, como o Conformidade Fácil, se tornarão centrais na rotina da contabilidade.
Como calcular a nova CBS?
O cálculo da CBS envolverá a aplicação de uma alíquota padrão (com previsão de redução para setores definidos por lei) sobre a receita bruta de bens e serviços, descontando-se os créditos permitidos de acordo com a nova legislação. É importante acompanhar os detalhes das alíquotas e critérios previstos na Lei Complementar 214/25 para garantir o correto preenchimento.
CBS substitui quais impostos atuais?
A CBS substituirá dois tributos federais: Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Assim, operações atualmente tributadas por PIS/Cofins passam a ser gravadas pela CBS, simplificando a arrecadação e apuração, mas exigindo atenção a cada detalhe do processo de implantação.
 
 



